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Pressão por sucesso e agenda cheia pode gerar burnout em crianças, diz psicóloga francesa

Discussão em 'Noticias' iniciado por g1, Julho 22, 2024.

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    A especialista francesa Aline Nativel Id Hammou, que se prepara para lançar um livro sobre o 'burnout' infantil, recebe em seu consultório jovens pacientes exaustos, muitas vezes em depressão. Crianças podem dar sinais por meio de desenhos Reprodução/TV Cabo Branco Uma criança sem problemas de saúde pode se sentir tão cansada, a ponto de não ser mais capaz de dar continuidade a suas atividades cotidianas? Esse sentimento, descrito por profissionais que viveram um burnout, não se restringe aos adultos. Escola, aulas de reforço, inglês, balé, judô, natação, música e muitos eventos sociais sobrecarrega meninos e meninas de idades variadas. Entenda diferenças entre burnout, estresse e depressão “Recebi em meu consultório, durante mais de um ano, uma menina de oito anos que, por pelo menos seis meses, a cada 15 dias, vinha sábado de manhã e dormia no tapete. Eu a deixava dormir. Quando ela ia embora, me dizia: obrigada”, diz a psicóloga francesa Aline Id Hammou, especialista em burnout infantil. Esse é um dos relatos surpreendentes que a especialista francesa faz em seu novo livro, que será lançado no início de janeiro na França. O título é "La charge mentale chez l’enfant quand nos exigences les épuisent" (“A carga mental nas crianças quando nós exigimos demais delas”, em tradução livre). A obra, contou a psicóloga à RFI, é resultado de mais de cinco anos de experiência profissional com jovens pacientes que vivenciaram uma situação de exaustão generalizada. “Hoje em dia, ser criança é uma profissão de gente grande, com expectativas, exigências, metas e atribuição de funções”, explica. De acordo com a psicóloga, a sociedade, que inclui pais, escolas e família, cobra um esforço que muitas vezes ultrapassa os limites das crianças, esperando, dessa maneira, garantir o sucesso delas no futuro - a chamada réussite, em francês. Essa pressão, ressentida no cotidiano, é muita parecida com a sensação descrita pelos adultos que vivenciaram um burnout profissional – um nível de exaustão tão profundo que torna a pessoa incapaz de dar continuidade a suas atividades cotidianas, com efeitos diretos na saúde mental e física. O excesso de tarefas no dia a dia, ressalta Aline Nativel, exige esforço, concentração e dedicação. As exigências e obrigações são tantas que geram sobrecarga mental. “Tudo isso é repetitivo, tem efeito cumulativo e, principalmente, a criança não vê sentido”, diz. O resultado, como em um adulto estressado, é um cansaço generalizado que leva a uma exaustão física e mental. Fenômeno ocidental Essa tendência, diz a psicóloga, é relativamente recente e atinge, do seu ponto de vista e experiência, principalmente as culturas ocidentais. Este comportamento é um reflexo da ansiedade em relação ao futuro e seus desafios: transformação do mercado do trabalho, crise econômica e aquecimento global, que provocam um sentimento de insegurança generalizado. Essa sensação, vivida pelos adultos, é projetada nas crianças. “Elas acumulam solicitações sociais, físicas, cognitivas e emocionais. Esperamos que sejam bem-sucedidas. Os adultos, com frequência, não veem a diferença entre o sucesso e a felicidade”, observa. A pressão em excesso impossibilita à criança evoluir por etapas – o mundo exige rapidez, resistência e bom desempenho. Muitos pais, observa a especialista, não aceitam a ideia de que seus filhos possam, em algum momento, fracassar. Esse comportamento incita uma busca pelo perfeccionismo que está na origem do burnout, muitas vezes extremamente precoce. Síndrome de burnout é um esgotamento físico e mental Os sintomas do stress nessa idade incluem, além do cansaço, a falta de disposição para brincar, de concentração, pouco apetite e dificuldades para dormir. “Sobretudo, essa criança vai sorrir cada vez menos e se transformar em um adulto em miniatura”, descreve Aline Nativel. Este é o caso do mais jovem paciente da psicóloga, de apenas quatro anos. Vítima de um excesso de estímulos por parte dos pais, a especialista o incita a brincar em seu consultório, porque, para ele, isso “é coisa de criança.” Extremamente intelectualizado, o menino se preocupa o tempo todo em agradar os pais e denota uma seriedade atípica para a idade. “Sempre digo que ele tem direito de fazer besteiras”, declara a psicóloga. “E ele responde que não pode, porque é grande, e os grandes não fazem besteira.” No caso desse paciente, foi a própria escola que notou um comportamento diferente e sugeriu que os pais buscassem ajuda. Em situações como essa, o tratamento se estende à toda a família, que muitas vezes não aceita o diagnóstico. A tendência, explica a especialista francesa, é os pais acreditarem que o filho é superdotado, e por isso excessivamente intelectualizado para a idade. Ideal de perfeição Na adolescência, o burnout se expressa através de uma perda de confiança e tendência à autodestruição. “Eles vão fazer de tudo para mascarar seu proprio mal-estar. Às vezes, por exemplo, não vão dormir para acabar uma tarefa, o que gera sonolência durante o dia. Vão fazer coisas demais, o que causa problemas de concentração, além da depressão e da fobia, que pode se manifestar em crianças de 11 ou 12 anos”, alerta. Em algumas situações, as pequenas vítimas de burnout, inclusive no jardim de infância, devem também ser acompanhadas por um psiquiatra e tomar antidepressivos e ansiolíticos. Uma das pistas para evitar o problema, acredita a psicóloga, é sensibilizar e conscientizar as escolas e os pais, criando, por exemplo, atividades de relaxamento dentro dos estabelecimentos. Relativizar a ideia do “sucesso” também seria um bom caminho. De qualquer maneira, lembra, em qualquer idade, a busca pelo perfeccionismo gera angústias que podem desencadear doenças mentais. “É impossível ser você mesmo quando se quer encarnar um ideal de perfeição”, conclui a psicóloga.

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